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A Cultura de Massa e Produção de Sentido

Postado por Estuário do Potengi em

Por Boni Neto

O grande filósofo grego Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) foi um grande estudioso da estética e da arte, além de se interessar em áreas como teatro, música e ética, âmbitos que inspiravam os mais diversos artistas talentosos, que produziam ora obras que podiam ser caracterizadas como belas, ora como feias. Diferentemente de seu tutor, Platão (428/427 a.C.–348/347 a.C.), Aristóteles acreditava que a arte era a representação do mundo e a beleza pertencente ao concreto e mundano, algo inerente à natureza do homem, ou seja, que estava ao seu redor; assim sendo, o belo aristotélico prezava por elementos como simetria, equilíbrio e ordenação, repudiando caos e desordem. Em seu conceito, a beleza seria dividida em duas categorias: o harmonioso e o desarmonioso. Cada uma destas, subdividas em quatro subcategorias: risível, cômico, feio e horrível para o desarmonioso; belo, gracioso, sublime e trágico para o harmonioso. Para os seguidores dos ideais de Aristóteles, "caçar" na natureza tais características estéticas, é algo que pode ser feito nos mais diversos elementos encontrados no cotidiano.

Em visita à área conhecida como “Estuário do Rio Potengi”, também conhecida como Zona de Proteção Ambiental 8, descobrimos que alguns destes conceitos da beleza aristotélica podem ser facilmente identificados no ambiente se pararmos para tentar encontrá-los. Ao chegarmos, deparamo-nos rapidamente com um retrato da pobreza dos ribeirinhos: casinhas humildes e mal-feitas, odor putrefato de esgoto, animais de estimação acometidos de horríveis doenças... Não demorou muito para acharmos focos de poluição, que evidenciavam um ambiente feio e largado ao acaso, castigado, também, pela ação dos próprios moradores. Algo que costumava ser belo, agora é maltratado com a desova de lixo e despejo de efluentes de grandes empresas, sem quase nenhuma ação incisiva, por parte de habitantes, voluntários ou políticos, que possa impedir que isto continue a acontecer.

Enquanto avançávamos na jornada pelos arredores do Potengi, visando registrar o máximo possível, conhecemos os ribeirinhos, que moravam praticamente debaixo de uma ponte. Lá, os moradores nos receberam com inesperada e um tanto cômica hospitalidade; entrevistamos uma senhora, viúva e mãe de filhos de variadas idades, que relatou-nos sua triste história de vida, mas de uma maneira bem-humorada, para nossa surpresa. Ao mesmo tempo em que ouvíamos atentamente a narração da senhora, que também criticava com ironias os risíveis esforços dos políticos para salvar aquela região, os outros moradores dançavam e festejavam, enquanto esperavam a churrasqueira aquecer a carne que estavam preparando para um grande banquete de vizinhos.

Com o avanço da exploração, pudemos ver, com certo alívio, que nem só de miséria vive as bandas do Rio Potengi atualmente. Há vida saudável, representada pelos pequenos e graciosos caranguejos que povoam os mangues; as vistas dos mais variados ângulos da região do estuário do Rio Potengi são impecavelmente belas; e o por do sol, especificamente naquela região, é algo sublime, que com certeza contribui para que o Rio Potengi continue a ser visto como um dos principais cartões postais não só de Natal, mas também de todo o Rio Grande do Norte, a despeito da forte e diversificada poluição que estraga o lugar.

É uma pena, portanto, o trágico e sombrio destino que aguarda o Rio. Todo dia entulhos, detritos e os mais nocivos tipos de lixo são jogados em todos os cantos daquele lugar. Pouco é feito para tentar reverter a situação. Muito em breve, o pouco ecossistema saudável que ainda sobrevive ali, deve desaparecer. Talvez os moradores do local ainda não percebam a gravidade da situação, mas todo esse injusto castigo aplicado no Potengi não passará impune. No futuro, certamente, a natureza cobrará seu preço por tanto descaso e irresponsabilidade com um dos pontos de referência mais lindos que Natal tem.

Como bônus, acabamos descobrindo, também, que a Ponte Newton Navarro, que liga a Zona Norte à Zona Oeste de Natal, e passa por cima do Rio, foi assim batizada por uma razão especial. O verdadeiro Newton Navarro (1928-1992) foi um dramaturgo, poeta, desenhista e pintor. Dentre as inspirações que povoavam suas obras, estava o Potengi. Confira abaixo alguns desenhos do artista, devidamente homenageado, que era apaixonado pelo Rio Potengi e por sua cultura.


Créditos das obras de Newton Navarro: overmundo.com.br
 
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